Por Rubens Lessa
Todo início de ano traz com ele o período de férias aumentando o número de veículos nas estradas e também a preocupação com a segurança nas viagens. A preocupação é real já que o Brasil agoniza com a qualidade de suas rodovias que cortam o País de norte a sul. O sistema rodoviário tem sofrido não somente com a crise econômica, mas também com a precariedade delas. Os números são alarmantes. Segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o País registrou, somente no ano passado, mais de 69 mil acidentes, destes 5,2 mil resultaram em mortes. Nos últimos 12 anos analisados pela CNT, foram mais de 1,7 milhão de acidentes nas rodovias federais, sendo 751,7 mil com vítimas e 88,7 mil mortes. Apesar da importância do investimento na infraestrutura das estradas pouco valor se tem dado a elas.
Os acidentes nas rodovias quando não ceifam vidas costumam deixar dolorosas marcas. Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária (NOS), os acidentes de trânsito no Brasil são responsáveis por deixar 400 mil pessoas com algum tipo de sequela. Além disso, cerca de 60% dos leitos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) são preenchidos com acidentados. São mais de R$ 52 bilhões anuais gastos para cobrir os custos de tanta tragédia.
Minas Gerais com uma das maiores malhas viárias federais (cerca de 8.850km) do País ocupa triste colocação no ranking dos acidentes com vítimas em rodovias. O estado é o campeão em acidentes nas estradas, com 7.214 ocorrências de acidentes em 2018. Em seguida está Santa Catarina com 6.731 ocorrências e Paraná com 6.132. Quando o assunto são acidentes com mortes o estado mineiro também lidera a triste estatística com 693 mortes, seguido de Paraná (494) e Santa Catarina (386).
Para agravar o cenário, a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada em outubro pela CNT e pelo Sest/Senat, revelou que piorou ainda mais a qualidade das rodovias no País. O estudo constatou piora nas condições das características observadas. O estado geral apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, o percentual foi 57%. Também está pior a situação do pavimento (52,4% com problema), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%). No ano passado, a avaliação foi 50,9%, 44,7% e 75,7% com problemas, respectivamente.
O número de pontos críticos identificados ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados aumentou 75,6%. Passou de 454 em 2018 para 797 em 2019. São considerados pontos críticos: quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista, trechos com buracos grandes. Essas situações atípicas ocorrem ao longo da via e podem trazer graves riscos à segurança dos usuários, além de custos adicionais de operação. Na pesquisa da CNT, são avaliadas as condições de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais, também pavimentados. Nesta edição de 2019, foram percorridas todas as cinco regiões do Brasil, durante 30 dias por 24 equipes de pesquisadores.
A péssima qualidade das rodovias brasileiras tira vidas, deixa sequelas, aumenta os gastos no setor público e ainda impacta o meio ambiente com mais emissão de poluentes. O estudo da CNT também revela que neste ano deve haver um adicional de 2,46 milhões de toneladas de dióxido de carbono (C02) emitidas no Brasil. Com tantas evidências, é urgente aumentar consideravelmente os investimentos do governo federal na infraestrutura de estradas, manutenção e conscientização da população. Além disso, é necessário melhorar e manter a fiscalização da aplicação do orçamento disponível.
Reduzir o risco de acidentes nas estradas depende um grande esforço conjunto entre sociedade, governos e órgãos públicos. Para sair desse triste ranking ainda há um longo caminho, que passa, essencialmente, por investimento, educação e conscientização.
* Presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de Minas Gerais (Fetram)
Artigo foi destaque no caderno opinião do jornal Diário do Comércio